Fisiologia do estado vegetativo
Ela precisava utilizar uma daquelas palhas de aço.
Ela precisava utilizar uma daquelas palhas de aço.
Daquelas, que vira em sua infância, tirar toda
qualidade de sujeira que se pusesse
a “enfear” as mármores do chão de sua casa.
Nada ultrapassava a barreira da epiderme; tinha os poros todos... todos os poros cegos. Sem tato; fraco paladar; audição terrivelmente comprometida. Voz completamente fora de qualquer tom; era inodoro e inerte o ar que lhe penetrava e levava a lugar nenhum especial em sua memória.
Era uma mulher quase morta.
Vagava incólume entre os seres em estado de euforia ou inércia; em estado normal ou alterado...
Vagava. Andava-lhe os passos sem consciência.
Não se via o viço em seus olhos; a lágrima não lhe corria a face com a fluidez “descarada” que trazia o sorriso, logo que o sabor agridoce lhe lambesse lábios.
Vegetava, pois há muito não experimentava desta comunhão, deste quase orgasmo lábio/lágrima.
A secura de suas papilas gustativas era outro sinal de seu estado vegetativo. Elas não conseguiam mais inundar sua boca. Faziam o movimento suficiente para que, de longe, sentisse o leve sabor das coisas e das pessoas, não sendo o bastante para que ela lambesse seus tenros “beiços”.
Ela vegetou por dias e dias... Por vários dias não se reconheceu como o SER PERMEÁVEL que sempre fora e temia estar vivendo uma vida sem sentido com prognóstico de cronicidade daquele estado doentio e sombrio.
Até que um dia, como por encanto, o “feitiço” foi quebrado.
E como se deu isso? Eu não sei. Ela não me contou...
Um comentário:
Gostei mesmo, Lu.
bjo
Postar um comentário