Fisiologia do estado vegetativo

Ela precisava utilizar uma daquelas palhas de aço.
Daquelas, que vira em sua infância, tirar toda
qualidade de sujeira que se pusesse
a “enfear” as mármores do chão de sua casa.

Isso foi quando entendera que tinha todo o corpo, as vísceras e os sentidos recobertos por uma crosta endurecida que lhe anulava a propriedade de SER PERMEÁVEL!
Nada ultrapassava a barreira da epiderme; tinha os poros todos... todos os poros cegos. Sem tato; fraco paladar; audição terrivelmente comprometida. Voz completamente fora de qualquer tom; era inodoro e inerte o ar que lhe penetrava e levava a lugar nenhum especial em sua memória.
Era uma mulher quase morta.
Vagava incólume entre os seres em estado de euforia ou inércia; em estado normal ou alterado...
Vagava. Andava-lhe os passos sem consciência.
Não se via o viço em seus olhos; a lágrima não lhe corria a face com a fluidez “descarada” que trazia o sorriso, logo que o sabor agridoce lhe lambesse lábios.
Vegetava, pois há muito não experimentava desta comunhão, deste quase orgasmo lábio/lágrima.

A secura de suas papilas gustativas era outro sinal de seu estado vegetativo. Elas não conseguiam mais inundar sua boca. Faziam o movimento suficiente para que, de longe, sentisse o leve sabor das coisas e das pessoas, não sendo o bastante para que ela lambesse seus tenros “beiços”.
Ela vegetou por dias e dias... Por vários dias não se reconheceu como o SER PERMEÁVEL que sempre fora e temia estar vivendo uma vida sem sentido com prognóstico de cronicidade daquele estado doentio e sombrio.
Até que um dia, como por encanto, o “feitiço” foi quebrado.
E como se deu isso? Eu não sei. Ela não me contou...

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