Domingo de chuva

Passei todo o dia em casa. A chuva era intermitente.
O dia passou e eu construí e desconstruí.
Arrumei papéis, sentimentos, esperanças.
Limpei a casa e o meu coração.
Lavei minhas roupas e a minha alma.
Varri.
E não botei debaixo do tapete minhas reais expectativas quanto ao meu futuro. Ao contrário, coloquei-as bem em cima da mesa que havia acabado de perfumar, como se (sem saber) ali preparasse o terreno afim de que brotassem as sementes lançadas... ao vento, pois foi um dia de vento.
Vento forte, decidido assim como eu hoje.
Decidi que ficaria comigo mesma, sozinha, digo, com as minhas expectativas, meu planejamento para o segundo semestre e minha vida.
Foi fácil. Não doeu. Foi um prazer estar comigo e com meus planos.
Na minha arrumação não faltou espaço para futuras conquistas (no trabalho e na academia); um grande amor – avassalador e correspondido; mais conforto, tranqüilidade, silêncio e prazer; mais, e ainda mais perto dos meus amigos; mais amiga dos meus irmãos; o doce sonho da maternidade em momento oportuno; a lembrança do quanto fui feliz quando dividi a minha vida com alguém muito especial; de como sou feliz por ser ele (meu amigo de sempre); de como sou feliz por ter uma família ‘invisivelmente presente’ em minha existência; Mariana e Joaquim: maravilhosos presentes dos meus irmãos para o meu coração maternal...
“Poesia em forma de sorriso”, disse um amigo a meu respeito.
E, com todo respeito, eu hoje me entreguei à minha poesia!
Permiti que ela me deixasse mole, que ela dissesse que cômodo da casa iria arrumar; que parte de mim iria tocar; que sabor iria provar.
Passei o dia e x p e r i m e n t a n d o!
Hoje experimentei dividir o meu dia entre Luciane A Barros da Rocha e Lu Barros.
Talvez, pela primeira vez, assumo que fiz poesia não como quaisquer cinco minutos que sobram no dia de Luciane A Barros da Rocha.
Fui uma e fui outra, cada uma em seu tempo.
Foi o dia em que mais amei a minha poesia. Estava mais viva hoje. Um dia regido pela chuva que batia em minha janela; pela beleza dos pássaros que consegui avistar.

O dia em que o vento
gritou bravo de prazer
me emprenhado de poesia.

Salvador, 29 de julho de 2007.
Já é noite e ainda chove.
Lu Barros

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