Só se for natural...


O texto a seguir vai para além da “Nata do Para Poucos”. Acho a temática tão importante que vale à pena expandir. Mesmo que com isso eu esteja expondo, para além da “Nata”, minhas frágeis inquietações. Mas, por favor, não me exijam...


Figura 1 – Expressivos olhos verdes. Trazia uma argola que, para mim, era demasiadamente grande. Braços tatuados e adornados com correntes, além de um anel que me remetia às figuras bregas e de pouco “bom gosto”.

Figura 2 – Postura desajeitada; quase jocosa em sua calça jeans e camiseta básica de malha. Gorro de crochê cobrindo um resto de carapinha oxigenada. Olhos alquebrados de uma boemia sem fim. Fala arrastada e sem compromisso. Sem compromisso de enquadrar-se.

Das duas pessoas acima, rapidamente descritas, eu poderia ter certa ojeriza ou asco se me falassem delas como relato aqui, com tamanha brevidade. Contudo, eu as vi. E nisso, elas me “convenceram” de sua INFINITA BELEZA.

A primeira figura tinha olhar transparente e tranqüilo. A segunda, estava totalmente desprovida de arrogância. E elas não queriam “convencer” ninguém. Elas simplesmente estavam sendo elas. Pareciam estar no LIVRE EXERCÍCIO de EXISTIR tal como suas ALMAS sabem viver: desenquadradas.

Admirei a beleza deles. Quis beijá-los e ao som de suas vozes, eu, seminua, sambei livremente.


Estamos tão presos e acostumados às situações programadas que esperamos que TODO O MUNDO RESPONDA como responderíamos nós.
Ora, mas e a liberdade que eu desejo e que você deseja? Certamente, é também desejada pelo outro. Por este outro que nos incomoda quando não nos quer beijar; este outro que escolhe ouvir música sertaneja ou Asa de Águia; esta outra que sente as tão singelas e quase inocentes “borboletas na barriga” à carícia de uma outra mulher...

Sinceramente, ando incomodada com a constante necessidade de dar respostas; de me fazer entender; de não parecer egoísta...
Essa coisa de padrão e modelo tem sido tão forte que até eu ando me enquadrando. Pois é, percebi, há poucos dias, que não me dou o direito de, eventualmente, desistir dos meus maravilhosos cachos. Quando me dei conta que estava sendo tão radical fiz o exercício do desapego: dei escova nas madeixas. Não gostei, é bem verdade, mas precisava me permitir, experimentar.

Por favor, a esta altura da maratona, quando precisamos reaprender a consumir de modo mais inteligente; a nos alimentar sem agrotóxicos, a cuidar do corpo para que possamos beber mais, dormir menos; quando, em função de nossas conquistas, assumimos compromissos éticos e papéis sociais que devem ser incorporados à nossa rotina e, certamente, poderão remodelar nossos primordiais anseios de uma vida sem regras e sem compromissos... Isso tudo é tão difícil! consome energia, requer disciplina, atenção e cuidado! Ainda assim, nos damos ao desfrute de cuidar do passo do outro, do olhar do outro, da vontade e do desejo do outro... Pelo amor de Deus!

Não faço uma apologia à anarquia. Minha natureza não suportaria tamanha liberdade. Mas, o que tento provocar em nós, e é justamente o que tem me incomodado, é que observemos o quanto exigimos do outro.

Queridos, aproveito para desculpar-me pelas vezes que, de maneira infantil, exigi de vocês. Os quero como são. Na medida da convivência possível para continuar nos querendo bem. Muito bem. Bem demais, com direito ao prazer, ao deleite das nossas loucuras, ao riso – sem censura – diante do ridículo; que suportemos nossas lágrimas apaixonadas ou nossos gritos de fúria.
Tô com saudade de vocês.
Tô morrendo de saudade de mim. E é por isso que ando tão quietinha nos últimos tempos. Ando me procurando...
Lu Barros

“Nunca é igual
se for bem natural
se for de coração
além do bem e do mal
coisas da vida. . .”

Milton Nascimento / Fernando Brant

5 comentários:

Unknown disse...

Oi, Lú. Sim, às vezes me pego também exigindo de mim mesmo certas maluquices, por ser convencional, por ser "normal". Mas quá! Pra quê? Deixa pra lá! Saudades de tu. Beijoca minha linda.
Patrícia Côrtes

Lu Barros disse...

"Mas quá!" Adorei Pate. Muitos beijos

Carolina Pombo disse...

Oi Lú! Sonhei com vc esses dias! Alguém falou uma vez que o que mais rejeitamos no outro é certamente o que encontramos também em nós! Lindo texto!

Beijos saudosos!

Moisés Rocha disse...

Já havia lido, mas não como desta vez. "ALMAS DESENQUADRADAS". LuB o que é isso? Isso é fantástico! É o ser livre vislumbrado de forma imediata, sem aparências e aceitá-lo então fica fácil. Nada mais coerente com o mundo que nos cerca, se nos aceitarmos e ai tudo flui para irmos ao aconchego ao colo ao encontro do outro.

Lu Barros disse...

É isso mesmo meu irmão! Tá vendo como e gostoso...