Conversa Mole e Maresia

Incomoda a mim, ainda mais nos últimos dias, a ligeireza de certas palavras; dos corpos; dos olhares. Estou quase tendo um colapso de tanta velocidade. O ar que inspiro me sai tão rápido que estou soluçando e engasgando com minha própria saliva, que está seca, fria e sem sabor.

É na saliva que se sente todas as coisas. Tudo ‘água’ na boca quando se tem sede. Agora, ando sedenta por maresia; aguando por uma conversa mole; um dia inteiro sem telefone, chave, escada, elevador. Deitar em úmida relva, beira de rio; beijar na boca do vento; comer pelas narinas os encantados olores de terra; com a ponta da língua lamber o gosto do sal; na brasa da fogueira acender o pavio dos meus sonhos.

Ah! estou com sede GENTE. Aguando.

É que quase não se vê GENTE no olho dessa gente. Não há mais espaço ou tempo. Só os compromissos, títulos, contas, números. E no meu olho teimoso corre lágrima de saudade de um tempo lento.

Psiu! quero silenciar-me no meu oco. Quero minha casa com a cara da casa daquela gente que “conversa mole”: o filtro; a atalha; uma xícara de esmalte branco, uma chaleira e um banco de madeira. Só pra jogar conversa... dentro de mim!

O texto original foi escrito num domingo, 27 de maio de 2007.

Estava triste por só atender às minhas obrigações e pouco à mim e aos meus desejos e necessidades.

Seis meses depois, depois das lágrimas de um cansaço cruel, tenho as canecas de esmalte, um filtro de barro, uma talha enorme e ainda duas esteiras. E não os adquiri porque estava assim escrito. Mas simplesmente porque era isso que desejava. Quando parei e ouvi o meu oco tornei-me livre, mais leve, mais eu, mais GENTE. Ainda faltam o banco e a chaleira. Mas o que conquistei de verdade foi a minha liberdade.

Seis meses depois, voando para extirpar um “estado de impactação” e cansaço escolhi “Conversa mole e maresia” (de 27/05/07) para ver o que sentia lá longe. Dei uma ajeitada no texto e agora divido com vocês.

Em 01/12/2007; No céu, entre a minha doce Salvador

e Rio de Janeiro, que “continua lindo”!

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, linda!
Entendo o que disse. Às vezes somos somente nós neste mar de gente. Não há partilha, interação. Resultado disso é a cegueira de sentimentos... por isso os olhos não refletem a alma.
Um grande beijo!

Anônimo disse...

Eita, que dilícia!!
Quero essa malemolencia...

uma beijoca, minha linda!