Relato de uma mulher entre aspas


Passei uma tarde inteira entre as aspas.
Utilizei-me delas para garantir a minha integridade, dando uma cara e tom de verdade tudo o que dizia.
Cada vez que eu colocava as aspas emoldurando uma frase, já conhecia a minha intenção em velar aquilo que realmente sentia.
As aspas foram quase um make-up. Uma máscara. Pois sim, coloquei máscara. Não para os outros, mas para mim mesma. Fantasiei-me de aspas e concluí, naquela mesma tarde, que, toda tarde, estaria ENTRE ASPAS. E ali, emoldurada por elas, presa, não consegui.


Sentia o peso de um “estado de impactação”. Não é impactação de IMPACTO, IMPACTADA. É de congestionada; entupida.
Mas olhe, é bom que fique bem claro que este “estado de impactação” é anterior às aspas. Nada têm elas há ver com isso. Em verdade, elas me possibilitaram respirar mais à vontade, livrando-me de uma morte por asfixia.
Ora, mas de que adiantava tamanha ajuda se eu certeza possuía que tudo que falara entre as aspas era a minha tentativa de maquiar, para mim, a verdade.


O Céu andou sobre a minha cabeça
O Sol se pôs sob meus olhos
O Mar da Baía fez cócegas em meus ouvidos
A Música visitou-me
E eu não consegui.
Era isso que falava. Ao esconder a verdade de mim mesma bloqueei-me. Entupi-me.
Que tolice a minha tentar escrever algo sem que estivesse livre, com a alma imersa, submersa em verdade, em estado de pureza, destituída de máscaras.
Dona Clarice já havia me avisado que é assim em “A perigosa aventura de escrever”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lú, você é a pessoa mais intensa que eu já conheci!
Bjos,
Ise

Lu Barros disse...

Oi Ise,
� por isso que tento ser Leve. A Leveza e a Intensidade d�o-se as m�os, e o resultado � a Harmonia.
� como tento levar os meus dias.
Beijos carinhosos e amorosos,
Lu

Anônimo disse...

Olá Lú!
vc sabe o quanto que te admiro como Nutricionista e agora tenho mais um motivo para lhe admirar. Seus versos trazem paz esperitual!muito bom gosto! Parabéns!
Lívia Santos